Tenho como um dos grandes passatempos da minha vida, a observação do comportamento das pessoas. Por favor, não achem que eu sou uma fofoqueira à procura de um “babado” pra espalhar, uma mera curiosa da vida alheia. Definitivamente não!
Claro que de vez em quando comento e fofoco mesmo, mas nada que supere a dimensão de uma roda de poucos e limitados amigos. Comentários que não diria sadios, por que falar da vida de alguém, com certeza não é nada sadio, a menos que essa fofoca fosse no meio de uma musculação ou de uma caminhada.
Falando sério agora, adoro sentar em frente a minha casa e observar as pessoas, não só na rua onde moro, mas em qualquer lugar que eu esteja e que tenha que esperar por alguma coisa, ou seja, naquele intervalo chato que infelizmente temos que suportar para conseguir pagar uma conta, ficar mais bonita, naquela boa e velha fila, em uma viagem chata, enfim, isso ajuda a avaliar a si própria.
Nessas observações noto como é interessante o quanto mudamos de personalidade, ou melhor, não de personalidade, porque no fundo do disfarce ela ainda está por lá mantendo a sua essência, mas na forma de sua exteriorização, diria estilo talvez. Eu mesma sou uma prova viva dessas várias facetas.
Primeiro, quando se é criança, ou melhor, quando se era criança no meu tempo, o seu estilo era o estilo de sua mãe; digo no meu tempo, porque hoje como as crianças viraram anãs geneticamente modificadas, elas mesmas escolhem seu estilo e figurino, mas na minha época eu tinha que usar uma short cintura alta com listras na vertical, com uma camisa ensacada com listras da horizontal, juntamente com um sapato de verniz vermelho e uma meia branca com umas bolinhas penduradas...Ridículo para todos os padrões de modas que já existiram.
Na adolescência chega-se a fase da completa depressão. Não diria que a fase era Emo, até porque a depressão não significa que eu tenha que ser um total personagem ébano gótico e colocar aquela franja ridícula na frete do rosto, no entanto, foi uma das piores experiências da minha vida. Não nos entendemos em casa, seus pais são completos estranhos, os adultos parecem felizes demais, as crianças enchem o saco e os dilemas estéticos são em proporções épicas.
Sempre fui gordinha, hoje não fico tão neurótica com isso, mas na fase da adolescência era triste!!!! Roupas largas, choros no chuveiro, amores platônicos, adoração por boys band (tenho que admitir que esse defeitos se mantém forte e vivo) enfim, a treva completa!
O fato de não pertencer a padrões estéticos foi um pesadelo pelo qual fui escrava durante vários anos (e essa escravidão apenas está abafada por uma lei do ventre livre qualquer hoje em dia). Fiquei depressiva? Sim, claro, quem não ficaria, ainda mais quando o platônico grande amor da sua vida disfarçado de seu amigo era fervorosamente cliente VIP dessa escravidão.
Como enchi o saco de minhas pobres amigas nessa estilosa fase de minha vida sentimental; mas, por favor, era muito difícil arrumar amores para seu amor, principalmente quando a arrumada em questão era sua “amiga”! Essa fase me causa pesadelos até hoje.
No entanto, posso dizer que tomei uma atitude admirável, como sabia que não conquistaria ninguém com minha gordura depressiva latente e meu ego digno de uma noite chuvosa vendo Zorra Total, resolvi cair de cara nos estudos, nos livros, filmes e musicas...Não tinha “o namorado”, mas tinha cultura...vá por mim, isso pode ser até bom pra mim hoje, mas na época não me tirava nenhum pouco do meu estado minimalista.
Até que chega a fase de morar sozinha! Continuava bem depressiva e estúpida, só que agora sem o amparo dos estranhos que me conceberam e vendo que apesar de achar que eles eram seres de outro planeta, o meu parecia bem mais vazio sem eles.
Fiquei deslumbrada com o dinheiro que recebi e esquecendo que ele deveria servir para todo o mês, gastei em menos de quinze dia (foi bem aqui que aprendi como economizar). Agora era uma depressiva gorda, iludida, fudida, sem dinheiro, mas ainda possuía meus conhecimentos, que não me serviram de nada, até por que não iria parar em frente ao cemitério, que era ao lado da minha casa, pra despejar nos pedestres resenhas que havia lido no dia anterior por meros centavos, até porque ninguém iria pagar mesmo!
Mas enfim, conheci pessoas admiráveis nessa fase. Esse foi o tempo que me divertia sem mesmo sair de casa, até por que meus vizinhos universitários me proporcionavam a admiração completa, com suas histórias, relacionamentos e farras que um dia eu também poderia viver. Nossa! Como secundarista é uma população interessante, ou ingênua, ou demente...!!!!
Eu achava o máximo essa convivência, isso só fazia aumentar a bagagem universal que comecei a carregar da minha adolescência dark, até por que você não quer ficar pra trás, e mais uma vez eu estava cheia de informações e zerada no amor.
Até que finalmente chega-se a fase universitária. Meu Deus, eu preciso entrar na Universidade novamente! Foi destruição absolutaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!
Não irei aqui falar de estudos, de forma nenhuma, todos sabem que estamos na universidade pra estudar, ou melhor, deveria ser, e pra mim foi... Era uma aluna dedicada, sempre fui, no entanto, não era uma maníaca psicopata devoradora de livros e sugadora de pontos pra aumentar CRE.
Eu e minha companheira de aventuras, farramos e bebemos todas as latas de 51 possíveis, sejam elas pagas com nossos esforços de economizar no almoço, sejam “poivadas” dos homens que se ludibriavam com nossas conversas ensaiadas para essa finalidade, verdadeiras sereis ébrias.
As descobertas foram inumeráveis... Digo inumeráveis mesmo, e os sofrimentos também. Não é nada fácil ser rotulada por imbecis, em uma cidade de imbecis... Fora as poucas exceções, uma mulher que faz o curso que fiz na cidade que fiz entenderá bem do que eu estou falando, até porque era generalizado.
O fato de morar sozinha, ser economista, administradora, dona de casa, estudante dedicada, enfrentando todas as mazelas de uma vida universitária de privações, te faz uma total prostituta na visão de alguns invejosos tupiniquins!É uma merda! Sou vingativa e ainda vou dizer: “E ai quem é a vagaba agora, aproveita e lava meu carro direito!”. Pode me julgar se quiser não tô nem ai.
Até que finalmente terminamos a universidade, nunca mais vemos os nossos grandes amigos e percebemos friamente que não sabemos de porra nenhuma! Você passou cinco anos de sua vida enchendo a cara de álcool e a cabeça de informação e percebe que o mundo não está pronto pra receber uma burra igual a você.
Enfim, como a vida é cíclica na visão de alguns, me deparo novamente em um déjà vu do caralho: a depressão!!
Não por ser esteticamente deslocada, até porque não tenho mais tempo pra isso, mas a fase do DESEMPREGO VERGONHOSO; essa sim, situação de desespero avassaladora, que te leva rapidamente a desconfiar de todas as fases de sua vida, como que se culpando a todo instante de que você está naquela situação por ter cometido alguma besteira que não sabe qual, em uma das fases anteriores.
Você passa noites em claro procurando que erro foi esse e quando foi que ele aconteceu, mas você não encontra e se tortura, fica envergonhada tanto de suas fases passadas quanto da atual, não acha nada pra sustentar o seu peso inútil, e seu lugar no mundo parece que está a cada dia ficando menor e te engolindo.
Escolhi estudar e passar em um concurso (mas sempre fazendo alguns bicos dignos), prezando sempre pela estabilidade de saber quanto vou ganhar todo mês pra poder comprar as necessárias roupas e os essenciais sapatos que sempre quis, no entanto, você percebe que seus colegas que não escolheram os mesmos caminhos, estão trabalhando, sendo autônomos, fazendo mestrado, doutorado, sei lá a puta que lhe pariu e você está estudando!
Gente vocês não sabem como estudar dá trabalho, são horas e horas lendo algo que não se sabe se vai estar na bendita prova, como ele vai estar, e sempre tem um gaiato que diz: “está só estudando é?”
Só estudando “meu ovo”, ele diz isso por que não tá no meu lugar, caralho!
Finalmente, depois de privações sejam elas boêmicas, internéticas e cinematográficas, você acaba passando e começa um novo estágio de sua vida que ainda não posso tecer maiores comentários, até por que ainda estou bem no início e não quero iludir ninguém dizendo que uso minha estabilidade para farrar! Seria uma grande “mentira”... kkkkkkkk.
Bem, o que faltou nessa minha sinopse de estilos? Um nomoro, romances, ficas, homens que marcaram. É exatamente o ponto que demoradamente queria chegar. Todas essas fases que passei e que cada um de nós passa é mais do que natural, estamos em constante mudança e as experiências e pessoas que conhecemos nos ajudam a finalmente crescer... Ainda não cresci o suficiente mais garanto que já fiz uma bela caminhada.
Demorei a falar dos amores dessas fases, até porque não foram muitos, acho que só dois mesmo, no entanto paixões foram várias e o problema de estilo encontra-se ai!
Falei de todas essas fases e estilos das quais passei em minha vida. Mas todas foram fases demoradas tanto a passar quanto a recomeçar, no entanto, quando estamos com alguém drasticamente mudamos de estilo, simplesmente da noite pro dia e, voltando as minhas iniciais observações, isso me incomoda bastante.
Gostamos de um cara e ai mudamos completamente de cabelo, roupa, estilo, gosto, tudo... Viramos bitoladas do inferno e começamos a gostar das mesmas coisas que ele, e isso é ridículo!
A personalidade está agora no mesmo buraco que antes me perseguiu em um parágrafo anterior e você nem percebe. Faz de tudo para está no lugar do outro e acaba não ficando em lugar nenhum. Por que ninguém consegue fingir eternamente e nem quer perder o dito cujo amor por fingir... É foda mesmo!
Cheguei nesse dilema meio perdido dentro do texto, porque às vezes meus pensamentos são perdidos mesmo; tive que reviver todas as minhas fases pra perceber que a cultura que aprendi nos vários livros e letras de musicas que antes achava inútil, que mesmo na fase da lombra da latinha da boa idéia e na depressão de mais um concurso que não passei, consegui reanimar minha personalidade e sair de um estilo tosco e compulsório que, um dia, me levou cada vez mais pra longe de mim.
Tomei decisões dignas e corretas pelas experiências que tive em outras fases e não tirei nada da mudança drástica que vivi em minhas paixões, porque as mudanças que tive nessas épocas, não estão mais em mim, sabe por quê? Por que não há espaço para fingimentos, não tenho mais paciência, nem idade nem peso pra conquistar alguém com mentiras... E principalmente quando essas mentiras são direcionadas a mim mesma.
Refleti sobre isso e de como estou embriagada em minha felicidade, porque hoje ao voltar do trabalho (também já havia visto em um filme) escutei duas amigas conversando e uma disse pra outra: “Você está parecendo com seu namorado”.
Sei que ela disse sem maldade, e sei também que a outra garota ficou muito satisfeita por assim parecer, mas depois de todas as fases que eu passei, vejo que de jeito nenhum quero parecer com alguém, nem quero que ninguém pareça comigo, quero apenas ser original na forma de exteriorizar a minha personalidade, que às vezes pode até mudar, mas em um processo agora lento, e nunca mais drástico.
E é por valer a pena que estou agora atrás das minhas meias de bolinhas penduradas e não morrendo pra tentar aprender a gostar de uma banda ridícula ou um time sem noção!
Novamente, despeitada nunca, mas uma sempre eterna mulher de suas próprias VENENOSAS fases.